quarta-feira, 2 de junho de 2010

O Nordeste na rota do mundo


O desenvolvimento econômico do Nordeste e seu impacto na propaganda

Nunca o Nordeste brasileiro ocupou tanto espaço na mídia como nos últimos dez anos. Não se trata mais de uma especulação. Agora é fato: a região foi atingida por um verdadeiro “tufão” de investimentos financeiros que começam a germinar. Segundo especialistas, o antigo cenário de desigualdade regional no Brasil parece estar dando lugar ao interesse comum dos Estados, os quais estão interagindo na promoção do desenvolvimento econômico e social.
O Nordeste brasileiro ocupa uma área de 1,5 milhão de km2, equivalente a 19,5% do território nacional. A região é formada pelos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. De acordo com estimativas de 2009 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) a população chega 53,6 milhões de habitantes, o que corresponde a 28% da população brasileira. Segundo o próprio Instituto, em termos econômicos, estima-se que o PIB (Produto Interno Bruto) do Nordeste alcança R$ 393,4 bilhões em 2009, representando 13% do produto interno brasileiro.
As notícias de investimentos para a região chegam de todos os lados. Diariamente, a mídia reproduz informações de grupos empresariais dispostos a migrarem para o Nordeste a infraestrutura econômica e tecnológica, que antigamente, fizeram o desenvolvimento do Sul e Sudeste do país. O fantasma da desigualdade regional parece estar exorcizado pela nova geração de investidores nacionais e internacionais, aliados ao Governo Federal. A repercussão dos investimentos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é considerada um dos principais vetores desse novo “milagre econômico”. O PAC tem o objetivo de gerar crescimento econômico, emprego e a melhoria das condições de vida da população brasileira. No Nordeste, a previsão de investimentos já chega a R$ 29,3 bilhões, segundo fontes oficiais do governo.
Para se ter uma idéia da locomotiva chamada PAC, ela começou beneficiando o estado da Paraíba com a duplicação da BR-101 no trecho Recife/João Pessoa/Natal, além de concluir a duplicação da BR-230 no trecho entre João Pessoa e Campina Grande. Também foi realizada a ampliação da capacidade do Aeroporto Internacional Presidente Castro Pinto para 860 mil passageiros por ano.
Outro exemplo de transferência de riquezas está em Pernambuco, mas precisamente no Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo Guerra (Suape), localizado nos municípios de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho (a 40 km do Recife). O deslocamento de recursos públicos e privados transformou o local num dos maiores canteiros de obras do país, gerando milhares de empregos. São mais de 100 empresas instaladas e outras 37 em fase de implantação. O refino de petróleo e a construção de navios agora fazem parte da matriz industrial de Suape.
O porto já recebe aplicações em torno de US$ 17 bilhões, gerando 10 mil novos postos de trabalho. Já os investimentos públicos nos últimos três anos atingiram R$ 715 milhões e até o final deste ano deverá chegar a R$ 1,4 bilhão. A exploração do pré-sal também começará por Pernambuco. Pelo menos é o que anunciou o Governo este ano, informando que o primeiro navio plataforma (FPSO) para Petrobras será construído em Suape. O empreendimento está orçado em R$ 300 milhões, gerando 1.700 empregos diretos e indiretos.
O estado festeja ainda a escolha do município de São Lourenço da Mata para ser uma das sedes da Copa de 2014. Trata-se de outro motivo de aceleração do crescimento urbano do Recife e Região Metropolitana. Além da construção da Arena Capibaribe (orçada em R$ 500 milhões), o Governo do Estado também terá que realizar a estrutura das áreas circunvizinhas já batizadas de Cidade da Copa, com direito a ter uma nova estação de metrô e a duplicação da BR-408.
Os demais Estados do Nordeste também sobrevivem numa das melhores fases do país. Pelo menos é o que dizem os especialistas em economia. Eles observam a evolução de investimentos na Bahia, Ceará, Sergipe, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Maranhão. Principalmente depois do lançamento em março passado, do chamado PAC 2, que pretende estender para os próximos anos várias obras de infraestrutura, habitação e transporte.
Entre as regiões mais beneficiada está a Bahia, com investimentos nas obras da ferrovia Oeste-Leste, do estaleiro de São Roque do Paraguaçu, a duplicação do trecho Itabuna-Ilhéus nas BRs 415 e 101 (no extremo sul) e a pavimentação da BR-235, no trecho que vai da divisa da Bahia com Sergipe até o município de Juazeiro. Salvador também é uma das sede da Copa 2014 e por isso, ganhou mais obras de mobilidade urbana, ampliação do Programa Minha Casa, Minha Vida, nova infraestrutura do quebra-mar e do terminal de passageiros do porto, incluindo a ampliação do pátio e pista do aeroporto Deputado Luiz Eduardo Magalhães.
Já o estado do Ceará está sendo beneficiado por novas reservas de petróleo, que devem ser anunciadas e exploradas este ano pela Petrobrás. No plano de negócios da empresa para 2010/2014 está previsto investimentos de R$ 1 bilhão para a Unidade de Exportação e Produção do Rio Grande do Norte e Ceará (UM-RNCE). A maior parte destes recursos é destinada a exploração e produção de petróleo, além da revitalização da produção. A companhia pretende chegar em 2014, produzindo 100 mil barris de petróleo por dia no Rio Grande do Norte e Ceará.
Outra informação considerada importante é que através da Unidade de Negócios de Exploração e Produção do Rio Grande do Norte e Ceará, a Petrobrás pretende investir em 2010, mais de R$ 1,5 bilhão. Este valor será distribuído em cerca de 300 projetos naqueles dois estados. No Ceará, serão implantados projetos nos campos de Atum, Xareu, Curimã e Espada (área marítima ) e nos campos da Fazenda Belém e Icapuí (área terrestre ). Uma campanha de perfuração de 760 poços será feita somente no campo de Fazenda Belém, entre os municípios de Aracati e Icapuí.
Na condição de ser o menor estado brasileiro, Sergipe comemora a sua fase de desenvolvimento. Segundo pesquisa realizada pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos), a taxa de emprego naquela região é um dos mais positivos dos últimos anos. O levantamento aponta que em fevereiro de 2010 foram admitidos 8.401 trabalhadores e desligados apenas 6.515, gerando um aumento do emprego formal de 1.886 novos postos de trabalho. Nos últimos doze meses, o emprego com carteira assinada teve um crescimento de 6,05% em termos relativos, além de 13.658 novos vínculos (em termos absolutos). Os responsáveis por essa imagem positiva de Sergipe são os setores de serviços (gerando 981 empregos ou +1,12%); a construção civil (510 empregos ou +1,74%), a indústria de transformação (401 empregos ou +1,05%) e o comércio (com 46 empregos ou +0,09%).
Sergipe também é um dos maiores produtores de gás natural do país. O Dieese aponta que a produção total de gás natural (terra e mar) no estado teve um aumento de 5,13% em janeiro de 2010, em comparação ao mês de dezembro do ano passado. Trata-se de uma produção total de 85,37 mil metros cúbicos no mês, em relação ao mesmo período de 2009, quando a produção cresceu apenas 1,71%.

COMUNICAÇÃO –
Luiz Lara, presidente da Abap nacional e diretor da agência Lew´Lara\TBWA
A relação entre o fenômeno do crescimento territorial do Nordeste e o mercado talvez ainda não tenha sido suficientemente observado pelas pessoas, mas existe uma categoria que está de olhos bem abertos a todas as oportunidades desta região: os publicitários. Esses sim, não perdem tempo. Segundo a Associação Brasileira de Agências de Publicidade (ABP) os números do Nordeste não metem. O presidente da entidade, Luiz Lara aposta todas as fichas que o momento é ideal para despertar os executivos da propagada em relação às notícias que chegam destas bandas, cujo principal impacto são os negócios que fomentam o desenvolvimento do Brasil.
“O mercado do Nordeste está tendo um crescimento chinês muito acima do restante do Brasil. Isto se deve à força de consumo do nordestino. As marcas globais e nacionais estão desenvolvendo produtos e serviços específicos para atender às necessidades do povo nordestino”, destaca o presidente da Abap, acrescentando que isso exige uma linguagem de comunicação local, num tom de voz criativo e que estabeleça diálogo mais próximo aos consumidores com estas marcas. Ou seja, é fazer a publicidade regionalizada e com qualidade.
Edson Barbosa, presidente da Link Propaganda (BA/PE)
Luiz Lara é experiente na análise do mercado. Ele também é presidente da agência paulista Lew’Lara\TBWA, criada em 1992 e considerada a quarta maior agência do país. À frente da Abap há um ano, Lara tem em mãos uma verdadeira radiografia sobre a economia gerada no país pela indústria da comunicação, a partir da evolução na oferta de clientes públicos e privados. A pesquisa foi desenvolvida pelo ex-presidente da entidade, Dalton Pastore, com o objetivo de deixar os profissionais da propaganda mais atentos à globalização econômica.
A pesquisa teve o apoio logístico do IBGE, que apurou as reais dimensões do negócio da comunicação brasileira, formada pelas agências de publicidade, os veículos televisão, rádio, jornal, revista e internet, além dos fornecedores de serviços. “A publicidade cria consumo, cria produção, cria emprego. A publicidade é o motor do desenvolvimento”, escreveu Dalton Pastores, na apresentação formal do documento batizado de A Indústria da Comunicação no Brasil.

Giácomo Chiesa, Bando de Criação
RESULTADO – O Brasil tem cerca de quatro mil agências de publicitades, empregando nada menos que 30 mil pessoas. O Nordeste é o terceiro lugar em números de agências: são 462. A região só perde para o Sul, que fica em terceiro lugar com 675 e para o Sudeste, líder absoluto de empresas de propaganda com 2.296 agências.
O que mais impressiona na pesquisa da Abap são os números. A propaganda ocupa 48,1% dos segmentos de publicidade e aplica mais de R$ 15 bilhões nos meios de comunicação, principalmente na TV, que abocanha 60,4% de tudo que é produzido pelas agências. O segundo lugar fica com o meio jornal, com 18,5% da produção publicitária. Para atender à demanda publicitária é hora de olhar os meios de comunicação disponível no país. E neste aspecto, o Nordeste também leva vantagem porque se mantém no terceiro lugar, ultrapassando as regiões do Norte e Centro-Oeste. A região continua perdendo apenas para o Sudeste (1º lugar) e o Sul (2º lugar).
Para o atual presidente da Abap, os empresários do mercado publicitário podem se beneficiar desse momento de ressurreição econômica. “O Nordeste conta com ótimas agências de publicidade muito ativas e criativas. Temos uma boa governança em muitos mercados do Nordeste. Inclusive com agências, veículos de comunicação, parceiros de produção e demais prestadores de serviços de comunicação fortes nesta região. Juntos aproveitarão esta oportunidade de desenvolvimento e consolidaremos marcas a nível local, regional e nacional”, disse Luiz Lara.
Na condição de um dos maiores representantes de entidades de classe, Lara faz um reconhecimento aos capítulos regionais da Abap no Nordeste: “Os dirigentes desses capítulos sempre fizeram a diferença na organização do mercado local, garantindo a prosperidade de todos os parceiros da nossa indústria de comunicação. Até porque, os anunciantes ganham muito com campanhas que fazem suas marcas darem um salto em imagem, percepção de valor e vendas”, destaca. Ele reforça: “Esta valorização do nosso negócio tem sido muito bem construída pelas diretorias locais da Abap. Tanto, que temos lideranças do Nordeste brilhando a nível nacional, como é o caso, entre outros, do Queiroz Filho (da Ampla de Pernambuco) que hoje é um dos diretores da Abap Nacional. Cito-o em nome de todos os grandes publicitários do Nordeste, homenageando profissionais e empresários que, de forma empreendedora, criaram anunciantes locais e construíram marcas de sucesso”.
O vice-presidente da Fenapro (Federação Nacional das Agências de Propaganda), Humberto Mendes faz uma retrospectiva histórica, para constatar que o Nordeste realmente está vivendo uma nova fase. “Não faz muito tempo, falar em progresso no Brasil era falar apenas das regiões Sul e Sudeste que sempre receberam os maiores benefícios”, lamenta.
Agora o cenário muda e Mendes recorre a pesquisas para destacar suas impressões a respeito desta região. “Para 2010, a Região Nordeste, deverá manter sua posição de destaque no mercado consumidor nacional. Segundo dados da Target Marketing, empresa responsável pelo estudo Brasil em Foco e que formata o Índice de Potencial de Consumo (IPC), a estimativa é que o mercado nordestino deverá permanecer como o segundo do país. Posição conquistada em 2007, com 18.79%, ficando atrás da região Sudeste que detém 51,41% e a frente da Sul, cujo potencial de consumo é de 16,32%”.
O vice-presidente da Fenapro assegura que a entidade apóia qualquer iniciativa dos mercados regionais pela valorização das atividades publicitária. “Tanto é assim que visitamos freqüentemente os mercados de todo o Brasil, promovendo reuniões com as lideranças locais e levando oficinas especificas de mídia, planejamento, gestão de agências, criação, licitações e tudo o que os mercados solicitarem para o seu desenvolvimento”, garante.

OPORTUNIDADES – As portas do desenvolvimento do Nordeste estão abertas e resta saber se o mercado publicitário da região está preparado. Tem-se know-how suficiente para se candidatar aos interesses empresariais? Pelo levantamento feito pela PRONEWS em todos os estados, as agências nunca estivem tão seguras e autoconfiantes. O diretor de Atendimento da Agência Viamídia (BA), Américo Neto não têm dúvidas da própria potencialidade. “A Viamídia vem se preparando há alguns anos para atender a contas regionais. Investimos muito em estrutura, tecnologia e o mais importante: talento. Já atendemos contas regionais e estamos muito atentos ao estudo das mídias e da internet. O crescimento da internet no Nordeste é grande e ainda tem espaço para ser muito maior. Isso vai aumentar as vendas na região e também abrirá os horizontes das empresas regionais”, ressalta Américo.
Já o presidente da Link Propaganda (BA/PE), Edson Barbosa recorre ao pensador Tolstoi para expressar seu “bairrismo” em relação ao Nordeste. “Quer ser universal, cante a sua aldeia”. Segundo Barbosa, essa tem sido sua missão: cantar sua região para o país. “Mesmo sendo uma agência nacional, nossa raiz está aqui. Somos nordestinos e é prazeroso nos sentirmos assim. Além de Brasília, São Paulo e Pará, temos escritórios em Salvador e Aracajú. Nossa matriz está no Recife, mas temos clientes ainda na Paraíba e no Ceará”.
Barbosa comemora esta nova fase e diz que em sua opinião, o Nordeste deixa de ser visto pelo “sul maravilha” como um peso para o Brasil. “Hoje é um grande ativo econômico. O crescimento é maior do quem a média nacional. Os governos de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe, Bahia, enfim, estão invertendo a lógica do atraso e provando que políticas sociais consistentes fazem a economia crescer, porque incluem as pessoas no desenvolvimento”.
A agência Six Propaganda está há anos em Maceió e o seu sócio-diretor, Ramatis Costa acredita que o mercado publicitário alagoano ainda não está trabalhando com o máximo da sua capacidade diante do quadro de investimentos naquele estado, mas que em relação a sua empresa a mentalidade é outra. Além de atender ao mercado interno, a Six pensa na possibilidade de chegar aos estados vizinhos como Bahia e Pernambuco.
Ramatis analisa a situação de seu estado com entusiasmo, mas sem perder o realismo: “Aqui em Alagoas o momento tem sido muito bom para a construção civil, que foi o setor que destacadamente mais sofreu durante a crise. Isso é bastante evidente pela quantidade de produtos relacionados com o programa de incentivo à habitação para as classes C e D. O comércio também vai razoavelmente bem, mas os outros segmentos da economia ainda não estão aproveitando o momento. Apesar das belezas naturais, Alagoas só tem perdido espaço no cenário turístico nordestino. E o setor industrial é muito pequeno e pouco desenvolvido”, reconhece.
O mesmo entusiasmo realista se vê na postura do diretor da agência Bando de Criação, de Fortaleza (CE). Giácomo Chiesa não esquece que até pouco tempo, os brasileiros associavam o Nordeste à miséria ou ao paraíso de praias ensolaradas. “Lembro de um consultor que foi contratado pelo Governo do Estado do Ceará. Ele profetizava que o maior e único produto de venda do Nordeste era o sol. Agora, isso tudo mudou. O Nordeste é hoje a segunda maior região consumidora do Brasil, atrás apenas do Sudeste”, comemora.
Giácomo Chiesa vai além e percebe que a década de 90 sucateou a maioria das empresas de propaganda do Ceará. Ele agora, enxergar novos horizontes: “Esse período de prosperidade que estamos vivendo trouxe de volta os investimentos em qualificação pessoal e tecnologia. O Ceará sempre foi reconhecido como um berço de talentos. E com esse novo impulso, vamos entrar na briga para disputar fatias cada vez maiores no mercado regional e até nacional”, diz, acrescentando que dentro da Bando de Criação só tem gente apaixonada pelo que faz. Portanto, o desafio é estar preparado para atender o mercado em expansão do Ceará.
Já o diretor executivo do Grupo A Tarde, de Salvador (BA), Sylvio Simões se diz um entusiasta da conjuntural nordestina. “O crescimento do Nordeste é o crescimento do Brasil. Um governo voltado para as áreas populares fez com que surgisse um mercado interno do qual a região se beneficiou, dada situação social em que foi renegada pelos demais governos”, analisa. Para o executivo do grupo, não há tempo a perder. A empresa está cada vez mais preparada para ter acesso às novas potencialidades: “Isso se dá através de um trabalho conjunto do A Tarde, das agências e dos clientes, para que cada vez mais possamos conhecer os interesses reais dos setores da economia. Juntos criamos produtos customizados onde os clientes destacam a pauta e colaboram com o conteúdo”, destaca, referindo aos cadernos especiais do jornal e à revista Sua Casa, especializada no mercado imobiliário da Bahia. A revista foi escolhida por 62% da opinião dos leitores, com apoio do mercado de imóveis local, beneficiado pela expansão do setor da construção civil.
Os profissionais de propaganda estão todos atentos ao crescimento econômico do Nordeste. Mas, somente isso não é o suficiente. É o que observa o professor de Marketing do City Business School/Ibmec, Dimitri Rocha. Com mestrado na área de marketing pela Fundação Getúlio Vargas, o professor aprendeu com o tempo que não bastar ter uma agência nas mãos e criatividade na cabeça. Para se candidatar às novas potencialidades do mercado nesta região é importante ir mais longe. “É imprescindível buscar informações, aprender e depreender o que ainda não se conhece. Entendendo que a demanda se dá - e se dará mais intensamente - por estratégias de comunicação e, não apenas por propaganda sob qualquer forma de execução ou apresentação”, ressalta.
Quando o assunto é potencializar também a autoestima do nordestino, o professor é bastante enfático e crítico. “Quando se fala numa baixa autoestima, até porque, a todo tempo se fala na necessidade de se elevar a autoestima nordestina - me pergunto: de quem é a culpa? Sinto que boa parte dela (da culpa) é proveniente de algumas estratégias de comunicação e de posicionamento de oferta de marcas locais”, analisa, demonstrando um exemplo clássico: “Dizer coisas como ‘orgulho de ser pernambucano’ não tem mais espaço. É como se disséssemos, em outras palavras, que não somos tão bons assim, mas que temos orgulho ser quem somos. Essa é uma estratégia geral, que pode ter funcionado no passado, mas não funciona mais. Temos excelentes produtos e serviços no nordeste. Competimos de igual para igual com qualquer ofertador de produto ou serviço de qualquer lugar do mundo”, destaca.

Vinculada
TÂNIA BACELAR: A MULHER DA ECONOMIA NORDESTINA


Tânia Bacelar, professora da Universidade Federal de Pernambuco e sócia-diretora da Ceplan
A desigualdade social e o abismo que separava o Nordeste das regiões mais ricas do Brasil sempre foram motivos de análises dos especialistas. Entre eles, a economista e socióloga Tânia Bacelar, com doutorado em Economia pela Universidade de Paris (Panthéon-Sorbone). Ela também leva consigo a experiência de ter atuado por trinta anos na Sudene, onde conheceu de perto a realidade de cada estado desta região. Atualmente, Tânia Bacelar é professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e sócia diretora da Ceplan (Consultora Econômica e Planejamento) que existe desde 1995. A revista PRONEWS foi ouvir a opinião da economista sobre a conjuntura do Nordeste.

Revista PRONEWS – Como a senhora percebe esse momento histórico de crescimento econômico no Nordeste?
Tânia Bacelar – Trata-se de um momento muito bom. O Brasil retomou o crescimento de sua economia num novo patamar (cerca de 5% ao ano, exceto em 2009 por conta da crise mundial) e num novo padrão (enfatizando o consumo interno insatisfeito de amplas camadas da população, que os analistas estão chamando de “classe C”). E como no Nordeste a “classe C” é expressiva, a região recebeu impacto positivo desta escolha estratégica feita para o país. O avanço do crédito também ajudou a impulsionar o consumo interno, com o Nordeste crescendo em 35% o saldo de operações de credito a pessoas físicas entre 2004 e 2009, percentual superior à média nacional (- 30%). Outro dado relevante é o do desempenho extraordinário das aplicações do Fundo Constitucional do Nordeste (FNE) que pulou de um patamar de aplicação de R$ 254 mi em 2002 para R$ 1 bi em 2003, R$ 4 bi em 2005 e R$ 7,6 bi em 2008. Dado esse bom momento, investimentos privados se ampliaram na rasteira do dinamismo do consumo na região ao mesmo tempo em que o bloco de investimentos públicos organizados no PAC pelo Governo Federal também deu tratamento especial ao Nordeste, para onde se projeta mais de 20% do montante a ser aplicado, quando a região pesa 14% no PIB do País. Consequência: entre 2002 e 2009 o emprego formal cresceu no Nordeste a uma taxa média anual de 5,7% contra 5% de média nacional.

RPN – Com a experiência que a senhora tem por seus cargos de gestão econômica nesta região, esse crescimento pode ser considerado autosustentável?
Tânia – Uma boa taxa de crescimento é aquela que não permite ampliar o desemprego e ao contrário, absorve o estoque de desempregados existente. Mas tão importante como a taxa é o padrão de crescimento, pois se considera sustentável o crescimento da economia que dialoga positivamente com a melhoria da vida das pessoas e com as leis de reprodução da natureza. Ou seja, um padrão de crescimento ancorado na sustentabilidade social e ambiental. Este se sustenta no longo prazo.

RPN – Em sua opinião, como os estados nordestinos podem aproveitar esse momento, para conquistarem a própria estabilidade?
Tânia – Os estados nordestinos estão se inserindo bem nesse novo momento. Mesmo Alagoas, que passou por longo período de desajuste vem melhorando visivelmente. O dinamismo geral da economia nordestina criou um pano de fundo favorável e uma nova safra de governadores vem atuando bem em defesa da valorização das potencialidades regionais. Pena que não usem essa conjuntura favorável para dar mais força à Sudene, mas esta é outra história. A saúde financeira dos estados sofreu um pouco em 2009 por conta da crise internacional e seus impactos no Brasil, mas 2010 sinaliza o retorno dos bons ventos.

RPN – O mercado publicitário nacional e regional está de olho nessa fase de desenvolvimento do Nordeste. Qual seria a melhor estratégia de marketing para conquistar o mercado em expansão em todos os setores da economia?
Tânia – Uma estratégia que cole na realidade desta região: nos hábitos e valores de seu povo, nas grandes potencialidades que a região tem revelado, na capacidade de enfrentar momentos difíceis sem se deixar abater... Isso sem esquecer que cada mercado tem suas especificidades.

RPN – Qual o potencial da região no que diz respeito à atração de investimentos e novos negócios?
Tânia – Temos revelado grande potencial de crescimento para a produção de bens de consumo de massa, dos mais simples aos mais sofisticados (todos querem acesso a TV mais moderna, por exemplo). A produção de bens alimentares – agrícolas e industriais - vai se dinamizar nos próximos anos, puxada pelo aumento da demanda mundial e pela demanda nacional, sendo o Brasil um player de destaque crescente, ao lado da produção de energias limpas e renováveis. A cadeia da construção civil também está dinâmica. Ela abre numerosas frentes de dinamismo. O setor de petróleo e gás, por sua vez, chegou a Pernambuco e vai chegar ao Maranhão e Ceará (já estava na Bahia, Sergipe e Rio Grande do Norte) e ele será um dos puxadores do crescimento industrial do país nos próximos anos. A produção cultural, que se associa ou não ao turismo, é outro segmento que vem se expandindo e para o qual o País bebe na fonte do Nordeste.

(Fonte - Revista Pro News - Rose Maria)

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